Saúde
Demência do pugilista: conheça a doença que pode afetar lutadores
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Encefalopatia Traumática Crônica é o nome da patologia debilitante que acometeu nomes como Muhammad Ali e Maguila. Conheça as causas, os sintomas e como lidar com a condição
Popularmente conhecida como demência do pugilista, a Encefalopatia Traumática Crônica (ETC) é uma doença neurodegenerativa causada por traumas repetidos na cabeça ao longo de anos. Essa condição é comum em atletas de esportes de alto impacto, como boxeadores — origem do termo popular —, além de jogadores de futebol americano e rugby.
Segundo o neurologista Pedro Brandão, do Hospital Sírio-Libanês, outros grupos também apresentam risco, como veteranos militares expostos a explosões. “A exposição a lesões cerebrais leves ou concussões de forma recorrente leva a danos cumulativos no cérebro, que resultam em neurodegeneração progressiva“, afirma o especialista.
Apesar de ser considerada rara, casos notórios chamam a atenção para a gravidade da patologia. No Brasil, um dos boxeadores mais icônicos do país, Maguila, faleceu no último mês devido à condição, que não tem cura. Diagnosticado em 2013, ele enfrentou anos de luta contra os sintomas debilitantes da doença.
Causas
A principal causa da demência do pugilista é a exposição repetida a traumas cranianos, seja em esportes de contato, seja em contextos militares. “Esses impactos frequentes causam microlesões no cérebro, desencadeando processos inflamatórios crônicos e acúmulo anormal de proteínas, como a tau”, explica o neurologista Pedro Brandão.
A proteína tau ajuda a estabilizar as células nervosas, mas, quando alterada, forma emaranhados tóxicos associados a doenças neurodegenerativas. “Com o tempo, isso resulta em atrofia cerebral e em um declínio neurológico progressivo”, acrescenta o especialista.
Prevenção
Embora a ETC esteja ligada a esportes de alto impacto, a neurologista Carolina Alvarez afirma que a prevenção depende principalmente de evitar microtraumas, e não de evitar os esportes em si. “É uma doença rara, por isso não desaconselhamos a prática esportiva. A orientação é que a atividade física continue, mas sempre com o uso adequado de proteção”, indica ela.
Pedro Brandão acrescenta que medidas, como restringir golpes de alto impacto e estabelecer protocolos rigorosos para o retorno ao esporte após concussões, são essenciais. “A conscientização sobre os riscos e o monitoramento rigoroso são igualmente importantes para identificar e tratar sintomas precocemente”, completa ele.
Sintomas
Os sintomas da demência do pugilista são amplos, abrangendo alterações comportamentais, cognitivas e motoras. “Geralmente, esses sintomas surgem após a exposição inicial a traumas repetidos, o que pode dificultar o diagnóstico precoce”, esclarece Pedro.
Assim, Carolina ressalta que, para pessoas com histórico de microtraumas, é sempre importante estar atento aos sintomas:
Comportamentais: agressividade, impulsividade, depressão e paranoia
Cognitivos: perda de memória, dificuldade de concentração e prejuízo no julgamento
- Motores: problemas de coordenação, instabilidade ao caminhar e tremores
Tratamento
Por não existir uma cura nem uma terapia específica para a ETC, o tratamento concentra-se no manejo dos sintomas e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes. “As abordagens terapêuticas incluem o uso de antidepressivos, estabilizadores de humor e agentes para melhora cognitiva”, enumera Pedro.
Terapias complementares, como fisioterapia e terapia cognitivo-comportamental, também podem ser indicadas. “O suporte psicológico e o envolvimento familiar são fundamentais para lidar com as alterações comportamentais”, complementa o neurologista.
*Correio Braziliense