Meio Ambiente
Um terço das árvores da Terra corre o risco de desaparecer, diz relatório
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O perigo de extinção dessas espécies vegetais também representa uma grande ameaça a animais selvagens, outras plantas, fungos e até aos seres humanos
Uma equipe internacional de cientistas veio à público nesta segunda-feira (28) para afirmar que mais de um terço das espécies de árvores do mundo foram classificadas como ameaçadas de extinção pela lista vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). Esse número é tão elevado que supera até a quantidade de animais em risco, considerando todos os grupos, dos anfíbios aos mamíferos.
O anúncio foi feito durante a programação da 16ª Conferência sobre Biodiversidade (COP 16) da Organização das Nações Unidas (ONU). O evento, que ocorre em Cali, na Colômbia, desde o dia 21 de outubro até a próxima sexta-feira (1º), tem como objetivo avaliar o progresso global do plano de metas para o resgate da natureza até 2030.
Como destacou a BBC, mais de mil cientistas participaram da avaliação do estado de conservação das árvores. O estudo foi compilado pela IUCN, em parceria com a ONG britânica Botanic Gardens Conservation International (BGCI).
Árvores sob risco de extinção
Emily Beech, da BGCI, conta à BBC que a avaliação é considerada abrangente porque inclui mais de 80% das espécies de árvores conhecidas. Ao todo, 16.425 delas (38%) estão ameaçadas. Isso representa populações vegetais componentes de ecossistemas de pelo menos 192 países.
Na América do Sul, lar da maior diversidade de árvores do mundo, 3.356 das 13.668 espécies avaliadas estão em risco de extinção. As magnólias (Magnolia sp.) estão entre as árvores mais ameaçadas, assim como carvalhos (Quercus sp.), bordos (Acer sp.) e ébanos (Diospyros sp.).
A biodiversidade das ilhas aparece como a mais vulnerável. Segundo os pesquisadores, isso acontece porque geralmente essas regiões apresentam espécies endêmicas (que não existem em nenhum outro lugar). Em Madagascar, por exemplo, inúmeras espécies de jacarandás e ébanos estão ameaçadas; em Bornéu, 99 espécies da família Dipterocarpaceae estão em perigo; e, em Cuba, restam menos de 75 indivíduos maduros da Harpalyce macrocarpa.
Dentre as principais causas para este problema estão a agricultura, a extração de madeira e a urbanização. O surgimento de pragas e doenças também se destacou na pesquisa, sobretudo, em relação às zonas temperadas. Embora as mudanças climáticas sejam reconhecidas como ameaças emergentes, o estudo não chegou a conclusões sobre como o aquecimento poderá afetar as árvores.
Desmatamento
O desmatamento é devastador para o clima e a biodiversidade, mas o mundo tem lutado para pará-lo, indica o jornal The New York Times. Em 2021, mais de 140 países, incluindo Brasil, China, Rússia e Estados Unidos, prometeram acabar com o desmatamento até 2030; o acordo cobre cerca de 90% das florestas do mundo.
Em termos de ação, porém, as notícias não são tão otimistas. Em avaliações anuais do progresso em direção às metas florestais globais, descobriu-se que, em 2023, a taxa de desmatamento era 45% maior do que deveria ser para interromper gradativamente o fenômeno até 2030.
“Há um enorme ponto cego em termos de compreensão e priorização do valor das florestas em pé”, afirma Erin Matson, consultora da Climate Focus, empresa responsável pela avaliação. “Os governos são frequentemente afetados pelo lucro, e é muito mais fácil ganhar dinheiro desmatando uma floresta ou extraindo madeira do que a protegendo”.
Efeito cascata
O estudo da IUCN destaca ainda que as descobertas são especialmente preocupantes dada a quantidade de vida que as árvores sustentam. Incontáveis outras plantas, animais e fungos dependem dos ecossistemas florestais e serão prejudicados pela extinção desses ambientes.
Esse é o caso, por exemplo, do ouriço-terrestre (Erinaceus europaeus), que já tem dado um passo em direção à extinção. Típico do continente europeu, sua população diminui conforme ele perde seu habitat natural pela expansão da agricultura e do desenvolvimento rural.
Também há preocupações com a sobrevivência das aves migratórias, muitas das quais fazem escalas nas vastas costas e estuários da Grã-Bretanha. Quatro aves limícolas do Reino Unido – a tarambola-cinzenta (Pluvialis squatarola), o maçarico-galego (Numenius phaeopus), a vira-pedras (Tringa interpres) e o pilrito-de-bico-comprido (Calidris ferruginea) – tornaram-se mais ameaçadas.
Além disso, as árvores também possuem um papel fundamental na regulação dos ciclos biogeoquímicos da Terra, como na reciclagem da água, dos nutrientes e do carbono. Sem elas, toda a biosfera pode ser comprometida.
“Esta importante análise de espécies de árvores ameaçadas destaca o quão crítico é proteger e restaurar ecossistemas florestais diversos e saudáveis”, reitera Cleo Cunningham, chefe da Birdlife International. “Nosso relatório deve ser levado a sério; para o bem das comunidades locais, da vida selvagem e das próprias florestas”.